Era uma vez um jovem.
E era uma vez uma criança.
Os dois viviam na era de um novo Sol.
Com novas ideias que no anterior não existiam.
Um mundo conturbado como qualquer outro mundo.
Vazio, rico e profundo.
O jovem caminhando pelo deserto viu que a criança arrancava a página
de um livro de Mallarmé, a enrolou e começou a fumar poesia.
A criança encarou o rapaz dizendo:
-O que está olhando, meu jovem?
Ao que o jovem respondeu:
-Nem só de Mallarmé vive o homem. Não devia fumar poesia, pobre criança.
-"Um lance de dados jamais abolirá o acaso."
Foi o que a criança respondeu.
Passaram os dias e as noites. E de tanto fumar poesia a criança tinha enormes
olheiras e enxergava ninfas, faunos, dados e almas.
O jovem caminhando novamente tentou:
-Não devia fumar poesia, minha criança. Vai criar outro mundo com as escolhas
que irá fazer.
-Meu jovem...-a criaça falou- "Um lance de dados jamais abolirá o acaso."
O jovem olhou para o céu onde o sol ardia e viu que brilhava a mais do que podia.
Uma nova página foi arrancada.
E enrolada.
E fumada.
O sol começou a explodir.
Os anjos corriam ritmados ao acaso.
Alguém começou a cantar uma canção do the smiths.
A criança sorriu e o jovem falou:
-Outro sol vai nascer e eu serei velho. Você será jovem, minha criança.
Fumar poesia mata Sóis e os recria.
A criança olhou para a bola de fogo celeste na face de um anjo perdido.
Arremessando o cigarro poético no infinito, gritou aos céus com um rugido:
-"TODO PENSAMENTO EMITE UM LANCE DE DADOS"
Tudo clareou.
Tudo morreu.
E tudo voltou a viver.
A era de um novo Sol nasceu.
[explosões em harmonia]
Andando pela rua era uma vez um jovem, que antes foi criança, e agora olhava
uma criança que nasceu do Sol.
Ela enrolou a página de um livro de Tchekhov e começou a fumar poesia.
Acriança encarou o jovem e perguntou:
-O que foi meu jovem? Quer dar um trago?
Ao que o jovem, antes criança, respondeu sorrindo irritado:
-Não, minha criança.....Prefiro Mallarmé.
by Hugo